01/08/2012

Cultura da vida

Cultura é o comportamento humano forjado ao longo da existência. Qual é o seu comportamento como ser humano? O que é que estamos cultuando? A cultura efêmera morre. O que estamos alimentando? Coisas pequenas, superficiais, pequenos suspiros que não se houve além do umbigo.

Alimentar a cultura da vida talvez seja um desafio único e mais que secular. Não verei essa vitória, mas quando houver uma batalha. não vou fugir para alimentar meu ego ou as proposições da minha sociedade doente.

Doente por números e de visão estreita; a mais estreita já vista.

Se cada palavra que sai de minha boca não for minha intenção mais pura, melhor que eu fique calada. A mentira é uma inimiga cheia de caras e perspicácia. Mas não se purifica um rio milenar com boas intenções, nem ele se torna cristalino ao simples nascer do sol.

Cada pedra atirada teve seu alvo. Tudo tem seu preço. Se desviar da dor e das consequências é um ato covarde.

Mas só encontro covardes por onde quer que eu vá...


Só se busca paz, onde já existe guerra. A vida como a conhecemos pede a dualidade. Não é possível a exclusividade de sentimentos. Aqueles que se escondem atrás de belos escudos dos bons sentimentos jamais serão capazes de experimentá-los em verdade, pois somente quem já esteve doente conhece o valor da saúde.

15/06/2012

Cheiro novo

Hoje vi o entardecer mais bonito dos últimos meses. Só, senti o cheiro do vento que fala comigo. Sílfides contam segredos aos que param para ouví-las.


Sozinha, posso encontrar-me comigo mesma e renovar meus votos e princípios. Eis um momento mágico, o encontro de suas verdades e da trilha que guia ao lar. Que as estrelas continuem a me guiar, que minhas forças continuem a vir dos tempos idos e das mais velhas irmãs. Que eu possa ouvir o chamado da Lua e não mais me desvirtuar pelas falsas promessas do amor humano.

Agradeço as palavras de minha amiga Luiza Callafange e as reproduzo:

Senhora, perdoe este mundo
Onde as pessoas não sabem o que fazem
Senhora, não chore, não desanime
Sei que dói fundo
E portanto trouxe um feitiço que te reanime
Seja firme senhora, levante, avante!
Lute, corra, cresça, viva!
Dance, ame, se ame, o amor é seu semblante!
Desejo-lhe paz, amor, harmonia, saúde, esperança
Que assim seja e assim se faça
Com fé, sucesso e confiança!


Hoje vi o entardecer mais bonito dos últimos meses.

12/06/2012

Desacorrentando o passado

Acolhida pela sabedoria dos tempos, o oráculo me renova e me alivia. Terá fim a minha dor e encontrarei a felicidade. A mensagem é clara. O mundo é escuro.


Limpe-se do velho para a entrada do novo. Quem não conhece os votos antigos da passagem dos ciclos. Assim fiz. No meu dia especial, livro-me do passado e sinto-me leve como uma pluma. As correntes ainda ressoam em meus ouvidos e em meu coração, mas a vida é quente e me abraça sempre que estou para sucumbir. Renovada e refeita, saio das cinzas como fogo que busca incendiar. As feridas se cauterizam e servirão de memória. Nesse dia tão especial, nasci mais uma vez.

Doce ilusão

Como é possível tanta insensatez? Vou acabar ficando louca...
Quantos são os homens aos quais nos entregamos de verdade? Não sei. Mas muitos mais do que deveríamos...
Quantos nos trataram com respeito? Um, dois. Tudo isso: dois.
E porque nos momentos mais dolorosos aparecem os anjos? Será para nos salvar da luta inglória pelo amor? Será para nos tentar? Certo é que um anjo está a me fazer confusa de novo.

Porque ele vem? Porque me chama de nomes tão lindos? Porque me dá coisas que não peço? Porque me faz companhia sem me conhecer? Anjos... Seres únicos.

Tudo aquilo que mais sonho, tudo que choro noites a fio, esperando que meu amor, meu companheiro um dia faça. O anjo faz. Todos os desejos que senti por aquele que amo, o anjo realiza. Porque é assim? Não posso me apaixonar por um anjo, não deveria...

Um anjo quer saber de vc a todo momento, ele cuida de vc a todo instante e te faz surpresas boas. O que faz um companheiro? Te deixa triste, te deixa magoada, te deixa esperando...

Homens covardes. Pior das espécies.

Não sabem dizer sim nem sabem dizer não.

Os anjos são decididos, maduros, pacientes. Os homens são impulsivos, insensíveis e não tem tempo. Não há falta de tempo para os anjos, eles nos visitam a todo momento.


07/06/2012

AA - Amor Amargo

Amor Amargo

Sabes amor, é passageiro
O véu que cobre o sorriso, o amor e o cheiro
E, por infortúnio, é eterno
O que carrego, me lembro e me é terno

E quantas vezes me magoar
Tantas serão as vezes
Na chuva, na tempestade e no vento
Que buscarei teu olhar

Deusas, guerreiras e titãs
Não esperam o conforto do amanhã
A batalha em seus corações é a todo tempo
Ou amam, ou matam a contento

Se estás vivo ainda, amor
É porque o quero nesse momento
Se tal não fosse, sentirias tamanha dor
E viverias em lamento

Que farias tu por tua musa?
Quão longe buscaria tua inspiração?
O farol falha porque a luz é confusa
Mas nem por isso se abandona embarcação...

Mas nada, nada importa se ao te ver
Nega-me a única coisa que espero
Sempre e toda vez que te vejo
Paciente e esperançosa, aguardo por um beijo.

por Walkiria Eyre

30/05/2012

Minhas caras

Essas foram as duas últimas caras que o blog teve:


Agora adotei um novo creamy mix style. From now on it´s Romantic Shabby Cottage. 

"...completamente apaixonada deixo o deserto infértil para trás. Corre um instinto novo, forte e único em meu corpo, sangue reaquecido. La loba tem disso. E minha linhagem me chama de volta. Ouço as anciãs clamando ao luar: vem, toma teu cetro, olha e enxerga onde é teu reino, e ali, te faça a si mesma feliz e segura; nós estamos aqui, e vc é conosco".

Já me ergo, ferida sim, um tanto indisposta, mas nunca só, nem sem poder.

Meu clã é no ar que respiro. O momento é de reflexão dos princípios que me norteiam.

19/04/2012

Ritual

Exorcizando e purificando...
Exorcizando e purificando...
Exorcizando e purificando...
Exorcizando e purificando...
Exorcizando e purificando...
Exorcizando e purificando...
Exorcizando e purificando...
por 7 vezes.

E por fim, me darás a chave?






Canção Póstuma

Canção Póstuma

Fiz uma canção para dar-te; 
porém tu já estavas morrendo. 
A Morte é um poderoso vento. 
E é um suspiro tão tímido, a Arte... 

É um suspiro tímido e breve 
como o da respiração diária. 
Choro de pomba. E a Morte é uma águia 
cujo grito ninguém descreve. 

Vim cantar-te a canção do mundo, 
mas estás de ouvidos fechados 
para os meus lábios inexatos, 
— atento a um canto mais profundo. 

E estou como alguém que chegasse 
ao centro do mar, comparando 
aquele universo de pranto 
com a lágrima da sua face. 

E agora fecho grandes portas 
sobre a canção que chegou tarde. 
E sofro sem saber de que Arte 
se ocupam as pessoas mortas. 

Por isso é tão desesperada 
a pequena, humana cantiga. 
Talvez dure mais do que a vida. 
Mas à Morte não diz mais nada. 

Cecília Meireles, in 'Retrato Natural'

One Last Breath

18/04/2012

Perdendo meus pedaços

Perdi o sono,
Perdi a fome,
Perdi a vontade de dançar,
Perdi a alegria e a espontaneidade que sempre tive,
Perdi a força para lutar,
Perdi objetivos,
Perdi vontades,
Perdi desejos.

Perdi você.

Que mais vou perder enquanto viver...?


17/04/2012

Dying Softly

No seu silêncio pude ouvir trovões, e eles eram meu chamado, e eu fui ter com eles... E lá fiquei. No trono da tempestade.

04/04/2012

Sad Doll in the Bubble World


Not happy at all...

As bolhas de sabão vão passando ao meu redor em seu movimento lento e flutuante. Toco-as vorazmente no intuito de lhes tomar a alma: uma espécie de alma colorida, um arco-íris encerrado em seu interior.

Não consigo capturá-la...

A cada tentativa a morte de uma bolha em meus dedos.

As sobreviventes continuam um ballet brilhante, cheio de cores e reflexos. Sua delicadeza me hipnotiza e já não quero mais caçá-las, apenas contemplá-las. Como são belas! Devem ser bolhas encantadas.

As que morreram estouradas por meus dedos... triste. Ou estão libertas de sua forma e do incessante movimento: o flutuar? Sim, sua alma - o arco-íris - foi liberto da forma esférica, está livre. Livre, porém não se manifesta. Sem corpo, não vejo sua doçura e encantamento. Para onde vão, sem sua forma? Sozinhas também.

Talvez, se eu não tentasse agarrar suas almas, elas não estariam sozinhas. E continuariam a bailar com suas cores fantásticas uma música tácita. Mas e minha alma, onde a encontro? Quero sentir também as minhas cores.

Onde está você, essência!? Eu vou continuar procurando...


21/03/2012

O espírito da raposa

Eu não fui desenhada para necessitar de circunstâncias, coisas e pessoas como nosso corpo necessita de água.  Fui desenhada para, em situação de perigo, me destruir em 5 segundos, e renascer das cinzas como um botão de rosa que acaba de abrir em todo seu frescor e juventude.

Fui desenhada para resistir.

E não há palavras, dores ou perdas que me façam cair ou voltar atrás. Estarei sempre caminhando, seja como andarilho, seja em um carro de luxo.

Eu fui desenhada para resistir, portanto, não me veja uma pessoa fria e distante. É minha natureza auto-protetora que toma a frente, me veste a armadura e me manda para longe a cavalo. Eu também sinto frio e fome em meu caminho. Eu também sinto falta. Mas assim fui desenhada.

Não significa que eu não queira, que eu não deseje, que eu não acredite. Mas sou como ela, e onde eu moro é sempre inverno. Fomos desenhadas para resistir a condições difíceis, e isso tem seu reflexo. Se eu me desarmar, posso morrer de frio...


15/03/2012

Passagens Idílicas de um Amante Esquecido

Quando estamos juntos você é a rosa macia que me toca com cuidado. 
Entretanto, por hora nao temos ficado juntos... 
Mas aí é como a Lua, hora cheia, hora minguante e hora escondida no horizonte. 
Mas nem por isso perde substância ou brilho.


Outrora, seguíamos juntos um caminho sobe essa Lua. 
Talvez apartemos nossos caminhos mais adiante, e novamente
a Lua sobre nossas cabeças será a mesma, 
o sol o mesmo, 
a noite... a mesma
e a brisa irá trazer lembranças desse caminho que ora partilhamos.

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20/04/2012

Sem som, sem cor, sem textura, sem gosto ou cheiro. Nem o pensamento. Ausência. Ainda caminho. Escuro. Sem direção. Não completamente vazio. Menos cheio. Caminho.



[POST EM CONSTRUÇÃO]

09/02/2012

Mordendo a maçã...


Existe um ventriloquismo oculto em cada atitude humana, e não há parcimônia ou temperança que esconda de olhos inocentes a verdadeira razão de tudo.

Não são as pequenas amarras em um boneco suficientes para lhe tirar a alma conquistada em sorrisos infantis.

E a cada vez que se abrem as cortinas, um show do início ao fim é experienciado em seu máximo esplendor: dramas, paixões, alegrias, tristezas, insanidades e afins.

Entretanto, entretenimento foi a maneira que encontramos de fechar os olhos e não enxergar o desencadear de nossas próprias mentiras. Lá no palco tudo é belo e perfeito.

Triste?

Não.

Essa é a perfeição platônica geometricamente desenhada. Intrínseca a tudo, porém invisível. Destarte, o viver é inacreditavelmente esculpido no mármore do paraíso. Mas agora dê-me licença Senhor, estou me entretendo e não quero ser perturbada.

Criar meu mundo não compensa? Então tudo que tenho a fazer é tirar o chapéu, os laços, as fitas e as flores. E tiro também os amores.

14/01/2012

Lá dentro, é cinza.

A dúvida é o primeiro passo para que exatamente nada aconteça. Não saber o que fazer, nem aonde ir, nem o que dizer.

Há verde por todos os lados. Caminho lentamente, boa parte do tempo admirando o chão próximo a mim. O caminho é de areia, cimento e cascalho. A largura é de uma vez e meia a envergadura dos meus braços. O centro do caminho está quase seco, suas laterais são bem molhadas e a umidade vem ao centro em um degrade de água. Sobre a grama, árvores frondosas se prendem ao chão por meio de extensas e grossas raízes que criam alguns caminhos na superfície. Caminhos que servem de canteiro para pequenas moitas que, recostadas nas raízes, dão a impressão de aconchego.

Pássaros anunciam o início da noite. Corujas, com olhar de suspeita, saciam sua fome. Começa a chover uma chuva fina e triste. No silêncio dos barulhos mundanos, ouço cada gota que toca suavemente as folhas das copas, num som que se assemelha a beijos com estalos, aqueles beijos que dou em meu amor.

Sigo sob os beijos úmidos do céu. Em pouco tempo, vasculho os bolsos do agasalho até encontrar um molho de chaves. Abro a porta, entro e fecho a porta. Ao meu redor, barras de metal cilíndricas esmaltadas em branco. Acima de minha cabeça as barras de metal se encontram numa bela cúpula. O mundo volta a ter a franja branca sobre tudo. Agora eu tenho que cantar músicas alegres, ainda que sejam cinzas em meu coração, para receber daquele que me alimenta, um pouco de água e pão. Faço meu número, em seguida adormeço sonhando com a liberdade de poder amar, sentir, desejar. Mas logo o dia começa, e saio apenas com a certeza de que todo dia, ainda volto pra ela, minha pequena prisão de cúpula branca e bela.


13/01/2012

Sabedoria Ancestral

Ouço da Anciã as palavras que se seguem: "não há bem que não se acabe, nem mal que se perdure". Ouví-las gerou em mim um profundo sentimento de respeito e gratidão. Sou fruto de uma linhagem guerreira e sábia, forjada através de tempos imemoriais, protegida pelo segredo e pela fé. Mãos impuras jamais tornarão a tocar sequer meus cabelos. A fúria de meu olhar será suficiente para afastar inimigos, visíveis ou invisíveis.

Irei tecer de próprio punho a manta que me cobrirá com a razão. O tempo caminhará ao meu lado enquanto outros perecerão. Amparada na honra, permanecerei no altar digno daquelas que me precederam.


12/01/2012

04/01/12

04/01/12

Estacionei o carro quase em frente à padaria. Enquanto me ajeitava para sair olhei de relance para o outro lado da rua e um senhor deteve meu olhar. Era magro, judiado pelo sol, rosto enrugado. Usava uma camisa social verde escura, aberta no peito, calça social preta, um sapato e uma mochila esporte nas costas. Na calçada, bem próximo da rua, ele se abaixa e, com a mão em concha, pega água da sarjeta e passa no rosto e no peito, refrescando-se. Em seguida, olha o movimento da rua e cruza ao outro lado. Eu fico no carro, observando. Ele entra na padaria, seu caminhar é pouco confiante, confuso e indeciso. Sai de lá em menos de um minuto, sem nada nas mãos, com a mesma mochila nas costas, com o mesmo caminhar... não parecia bêbado, mas parecia perdido.

09/01/2012

Café aleggria

20:40h. Chove aquela chuva infinita que deixa a noite mais escura e torna o asfalto um espelho disforme.
Adoro cafés.
Esse que estou agora fica no que eu chamaria de esquina. Bem, é na ponta de um quadrado.

Coloco a bolsa sobre a mesa mais próxima e começo a fechar desajeitadamente o guarda-chuva, numa tentativa de evitar a água, como se evita machucar o dedo ao pregar um prego com o martelo. É só uma tentativa.
Uma jovem simpática, levemente rechonchuda, de pele da cor do café com leite e cheiro de canela, e um sorriso grande e fácil me recepciona: "boa noite!". Respondo igualmente.

Peço uma empanada e um café com leite condensado.

O mundo é diferente do que nos contam quando paramos e olhamos nós mesmos para ele.

Comi a empanada de alho poró com ricota antes que perdesse seu calor para as sílfides gélidas da noite. Depois, me diverti com o chantilly do café, comendo-o com a boca como se fosse uma bola de sorvete na casquinha. É mais gostoso quando a gente se diverte. Tem sabor de infância, quando não sabemos o significado da palavra problema e existe uma melhor do que abbrakadabra: mãe.

Um carro estaciona ao lado do meu, em frente ao café. Um bom tempo depois, um casal desce. O rapaz, que estava do lado do motorista, simplesmente vai para a calçada. A garota fica parada, olhando a água que corre pela sarjeta e esperando que o rapaz olhe para ela. Então, quando da devida atenção dele, ela diz: "não, impossível passar aqui".

Voltei para o meu café, e deixei que eles resolvessem o problema do precipício sozinhos.

O nome do café com leite condensado na carta de cafés é "café aleggria". Parei de ouvir a dança das águas por instantes; das caixas de som instaladas nas paredes saía uma salsa cubana...


Sensação estranha de conforto

08/01/12

Onde estaria a estranhez da sensação? E qual conforto é esse?

Confortável é quando você cabe sem faltar nem sobrar. É quando ocorre um ajuste entre você e a coisa. É quando a engrenagem não range nem escorre óleo. Mas é mais do que isso. O conforto gera a expectativa da continuidade, além de dar a impressão de que você é ou está inatingível a coisas que naturalmente poderiam incomodar.

A estranhez está em se fiar a um conforto que gera desconforto. Um conforto que protege você com tantos véus que fica difícil enxergar, causando a suspeita da insegurança. Um sentimento estranho porque é controverso, porque acolhe no escuro. Porque nos obriga a confiar no desconhecido.

08/01/2012

31/12/11

31/12/11

21 horas em Ribeirão Preto, ainda não está escuro nas ruas. A lua é um pingente prateado rodeado por uma luz branca e nebulosa. O céu, com nuvens, tem os mais lindos tons de azul já vistos em toda a minha vida... São muitos azuis, mesclados, os mais lindos azuis.

É por isso que caem

Todo rei é homem.

Tetris, from Russia with love

06/01/2012

Mudança de ares

porque há ares que vem para o bem.

30/12/11

Entrei silenciosamente. O zelador não tirava os olhos de mim: bermuda jeans, cabelo com pontas vermelhas, mochila de couro preta.... não é bem a indumentária religiosa. Sento-me em um banco na lateral, próximo ao altar frontal. Faço algumas preces e agradecimentos. Parece que não fazê-los é desrespeitoso...

Ao terminar meu momento meditativo, continuo quieta, apreciando a nave, seus vitrais, o presépio. Em seguida, um senhor entra pelos fundos do altar, vai até ao microfone central e dá batidinhas para testá-lo. Passa pelo púlpito e encaminha-se a um dos vários tronos de madeira enfileirados nas paredes laterais com suportes de madeira e genuflexórios, deposita sua bíblia sobre o apoio de madeira, senta-se na enorme cadeira, e assim permanece por alguns segundos. Une as mãos cruzando os dedos e profere algumas palavras de fé. A minha distância só permite perceber o movimento de seus lábios santos. Então ele descruza as mãos, abre a pequena bíblia, folheia por algumas páginas e se detém em uma página especial. Lê algum trecho, tira os olhos do livro sagrado e olha para o nada, pensativo. Segundos depois, coloca uma das mãos no queixo, em uma pose meditativa, franzindo levemente o entrecenho. Permanece assim longos segundos, admirando o pensamento, tentando ouvir o q ele tem a dizer. Então, Dom Hypólito, que veio da Itália e até a idade de hoje falava com sotaque, que naquela ocasião vestia túnicas brancas, que tinha ainda muito cabelo, todo ele branco, e que tinha a cabeça ligeiramente inclinada pelo peso dos anos, fecha o livro e também os olhos. Ora com movimentos preguiçosos da boca, numa alternância de oração em voz baixa e apenas mental. Continua nesse gesto em oração, porém às vezes com os olhos fechados e às vezes com eles abertos, como se não se sentisse seguro por muito tempo, ou talvez a desconfiança seja um hábito. Minutos depois, duas pessoas passam entre as fileiras de bancos para os fiéis do centro da nave e o púlpito. Uma, e depois outra. As duas tiram a atenção do padre momentaneamente. Mas ele continua lá, sentado, sem pressa. 

Me levanto, e me encaminho silenciosa e vagarosamente à saída. Os olhos do zelador não me perseguem mais. Já não sou ofensiva. Adoro igrejas.