13/09/2007

Algo maquiavélico...

porque isto se tornou tão pejorativo...

"Para Maquiavel, o que confere valor a uma religião não é a importância de seu fundador, o conteúdo dos ensinamentos, a verdade dos dogmas ou a significação dos mistérios e ritos. Importa não a essência da religião e sim sua função e importância para a vida coletiva. A religião ensina a reconhecer e a respeitar as regras políticas a partir do mandamento religioso. Essa norma coletiva pode assumir tanto o aspecto coercivo exterior da disciplina militar ou da autoridade política quanto o caráter persuasivo interior da educação moral e cívica para a produção do consenso coletivo."

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Maquiavel é conhecido pelo propósito, firmado em O Príncipe, de considerar "mais conveniente seguir a verdade efetiva da coisa do que a imaginação desta" (Il Principe, capítulo XV). Na análise do fenômeno religioso, podemos constatar a utilização deste "método": a religião é examinada a partir de seus efeitos práticos, ou seja, pela capacidade de despertar tanto o medo quanto o amor dos cidadãos a favor do vivere civile. Em outras palavras, "seguir a verdade efetiva da coisa" implica em privilegiar a "causa eficiente". Tratando-se da religião, consiste num determinado procedimento metodológico que analisa esse fenômeno por sua capacidade de cumprir a tarefa cívica de mobilizar os homens a favor do fortalecimento do Estado. Em semelhante modo de considerar as coisas, as questões teológicas perdem importância. Diante disso, como fica o papel da Providência? Pode-se ainda afirmar que ela dirige o destino dos homens? Sustenta-se ainda a convicção cristã de que a marcha dos homens é uma ascensão para Deus?[1]"

[1]
A novidade da contribuição de Maquiavel, de examinar a realidade humana sob o aspecto particular da vida de um Estado, não escapou à Igreja. Sua obra foi incluída no index, e Maquiavel queimado em efígie. Émile Namer chama a atenção para o fato de que o crime do qual Maquiavel foi acusado, de desprezar a virtude, a religião e tudo o que há de sagrado no mundo, "não era nada em comparação com a sua posição que introduzia a ciência positiva e o determinismo na alma humana, a moral e a religião" (NAMER, É. 1961, p. 91). Segundo ele, afirmar, como o fazia Maquiavel, "que existe um método capaz de prever a ação dos homens e dos Estados, de introduzir a causalidade na ordem espiritual, era contrariar todas as formas, todas as categorias mentais aceitas desde séculos, e não somente estas ou aquelas crenças isoladas" (Ibidem, p. 91). O que a Igreja combatia, na avaliação de Namer, não eram apenas as teses esparsas, hostis à religião e à moral acreditada, mas a maneira nova de compreender o Estado. As autoridades eclesiásticas, pondera o estudioso, "haviam compreendido que o Estado se apresentava cada vez mais como uma entidade que, sem excluir as crenças tradicionais, era autônoma e não aceitava se subordinar a uma autoridade religiosa e estrangeira" (Ibidem, p. 88). Certamente a visão de Émile Namer acerca da obra de Maquiavel, de que este é o introdutor de uma perspectiva científica da política, pode ser questionada sob diferentes pontos de vista. Com efeito, dificilmente os "preceitos" espalhados pela obra de Maquiavel podem ser considerados "leis científicas", pois não se apresentam como regularidades inalteráveis capazes de "prever a ação dos homens e dos Estados". No entanto, podemos conceder-lhe o acerto na conclusão de que a oposição da Igreja a Maquiavel era devida à possibilidade, aberta pelo florentino, de pensar a existência de um Estado fora de uma estrutura política fundada sobre o catolicismo.

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Eu não sei o quanto isso vale, nem sei se vale. Eu não sei se isso está certo, nem sei se há certo. Eu não sei se isso é lógico, ou se é uma falácia, ou se é epistemologicamente incorreto ou falho, ou se os argumentum ad etc são isso ou aquilo, ou se um sábio disse que isso ou que aquilo... Eu não sei...

Eu não sei a definição de dogmatismo, nem a de cepticismo, nem a de relativismo, nem a de perspectivismo...

Eu não sei porque acredito no que acredito. E não sei se o que eu acredito é verdade...
Mas enquanto minha razão inquire, meu amor traz a paz.

O problema do mundo não é a falta de religiões, mas a falta de amor...

Um comentário:

Buscadora disse...

Primeiramente, se você está expondo idéias de alguém é por que você concorda com no mínimo as idéias que você expôs. Claro que o Maquiavel não é perfeito, então se você for uma pessoa crítica, saberá observar idéias não muito práticas.
A parte “A novidade da contribuição de Maquiavel, de examinar a realidade humana sob o aspecto particular da vida de um Estado” eu já vi quando li a república de Platão. E bem parecido, se é que entendi a idéia.
A parte “mais conveniente seguir a verdade efetiva da coisa do que a imaginação desta” sim, com tanto que essa verdade seja possível por em prática, e não seja nada platônica.
A parte “Importa não a essência da religião e sim sua função e importância para a vida coletiva.” Sim, com tanto que essa importância venha para o bem.
E sobre o amor.... “O problema do mundo não é a falta de religiões, mas a falta de amor...” muito LINDA essa sua colocação... infelizmente essa palavra e sentimento está ficando piegas nos dias atuais, uma coisa pequena frente a idéias como progresso, sucesso, dinheiro, corrupção entre outros.

Beijos Walk, eu dou o maior apoio para divulgações de idéias como estas !!!!