19/07/2011
De noite.
Eu não funciono de dia. Definitivamente.
Não necessariamente sou um ser das sombras. Nem tampouco o inverso. Luz forte e clara, calor, vozes altas, pessoas com energia gastando-a alienadamente... Fico irritada.
Olho para os lados e não consigo ver senão o constante vazio humano, tão humano. Sim, já depreciei a minha raça, e salvo uns tantos poucos por aí.
Porque a noite? Porque é mais fácil achar alguém pra conversar; porque é possível contemplar. O dia me irrita, me deixa ansiosa, inquieta, impaciente... sigh. De noite não. De noite eu vejo, eu sinto, eu crio. De noite eu posso ser tudo que quero, de noite é mistério.
É de noite que dormem, ficam quietos, silenciam suas sandices. E posso enfim voltar a ouvir o que têm a me dizer aqueles que sussurram: os antigos. E quão belas coisas eu vejo quando os ouço... E assim velejo longe, numa realidade única, na qual os mistérios deixam de ser assim tão misteriosos. Na qual sou tão eu mesmo que me perco em turbilhões confusos de pensamentos: quem sou? A noite me deixa ser; mas o dia me confunde...
Eu não funciono de dia. Quem você vê, é apenas a sombra. Eu mesmo, só saio à noite de meu covil. E os uivos são prenúncio de caça.
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